Tem coisas na vida que nos marcam, machucam e deixam cicatrizes profundas por muitos anos.
Quando eu era criança, cursando a quarta série primária, passei por uma das mais terríveis situações da minha vida.
Minha escola estava promovendo um concurso de redação livre; o ganhador teria sua redação publicada e teria uma medalha, visita ao Prefeito e muito mais.
Sempre gostei de escrever, mas nunca fui uma aluna 'nota dez', principalmente em português.
Talvez seja por esse motivo que passei por tanto constrangimento.
A redação era sobre férias, mas eu escrevi sobre uma passagem que fiz à casa de uma tia.
Minha mãe caíra doente e eu fiquei na casa da minha tia por uns quatro dias.
Eu, com minha imaginação, fiz uma redação muita linda, como um sonho que eu queria que acontecesse.
Como se tratava de uma ocasião tão especial, pedi para minha cunhada me ajudar com os erros de português.
Quando entreguei a redação pronta, não imaginava o que estava por vir...
A minha foi escolhida entre duas para ser a ganhadora.
Minha diretora chamou minha professora e eu, para comunicar a boa notícia.
Foi quando, no meio de todos, minha professora disse que eu nunca poderia ter escrito aquela história tão linda.
Eu fiquei em choque, não conseguia me mexer; a diretora ficou bem desconcertada e me interrogou quem tinha feito, mas eu respondi a verdade, ou seja, disse que minha cunhada corrigira os erros de português, e que eu tinha o rascunho em casa.
Minha cunhada foi chamada e confirmou, mas minha professora disse que eu não tinha capacidade de escrever coisa tão boa e sensível.
Então levei os rascunhos, porém não teve jeito; fui desmoralizada e humilhada publicamente.
Não ganhei e ainda fiquei com fama de mau caráter...
Hoje não sofro tanto, pois sei que estava inocente, mas à época, para uma criança, foi traumático.
Fiquei mais de um ano sem querer escrever, mas tudo melhorou.
Resolvi escrever e contar essa experiência, para mostrar como um ato sem pensar pode marcar fundo uma vida.
(Baseado em fatos reais).
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